sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O porto que não saiu [Ainda bem!]

Na metade do século XX “Torres” almejava ser uma cidade próspera com intuito de crescimento comercial, tinha ligação através da navegação lacustre pela Lagoa da Itapeva até Osório. A sociedade torrense estava passando por um clima de tornar-se uma cidade portuária, com estrada de ferro, e isso estava atraindo pessoas para a região das Torres. A partir desse momento os torrenses passaram a absorver a ideia de um porto, porém quatro tentativas fracassaram.
Na primeira tentativa o Brasil ainda era um Império. Um dos problemas de comunicação entre o vasto Império eram as suas vias de transporte. Aproveitando os recursos lacustres da região, que formavam um grande canal interligado naturalmente, cogitou-se a possibilidade de ligar essa via a um projeto maior, ou seja, um Porto Marítimo em Torres. O escoamento de produtos na Província de Rio Grande de São Pedro era muito precário. A entrada da Lagoa dos Patos era um acesso muito perigoso, tinham muitos bancos de areia e precisava de muito investimento para fazer um porto. De acordo com Ruschel (apud ELY, 2004) em 1857, o governador da Província tinha duas alternativa, ou fazer uma barra em Rio Grande (RS) ou a construção de um porto em São Domingos das Torres. Os engenheiros ingleses eram a favor, a ponto de orçarem o projeto em três mil e quinhentos contos de reis em 1861. Porém, por influências políticas muito poderosas, o porto passou a ser em Rio Grande (RS). Foi feito um relatório em 1875 para Londres pelos engenheiros, onde constava que um porto em “Torres” era mais viável economicamente, e em Rio Grande (RS) era mais difícil e mais dispendioso e obras mais inseguras. Mesmo assim persistiu a decisão anterior.
Uma segunda tentativa foi durante o governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca que agonizava. Um dos motivos dessa crise foi a denúncia de que o então Presidente da República havia se envolvido em corrupção com o engenheiro da construção do porto de Torres, pois superfaturou a obra. Devido à sua renúncia e à Revolução Federalista em 1893, a obra foi abandonada. Se fosse concluída, Torres seria hoje uma cidade bem melhor economicamente, mas por outro lado, estaria desfigurada, pois entre a Guarita e o Morro do Farol teria um grande cais. E também os torrenses seriam “deodorenses”, pois a vila se chamaria “Deodorópolis”, em homenagem a Deodoro. Anos depois, o seu vice-presidente Marechal Floriano Peixoto, assumiu a presidência e mudou o nome de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis (SC) como imposição aos catarinenses.
A imagem abaixo é, até o momento, considerada a primeira fotografia de Torres. Pode-se confirmar a obra inacabada do primeiro presidente da República do Brasil.  
Molhes da Guarita, 1892 – Fonte: Acervo João Barcelos, 2007.

Na terceira tentativa, no ano de 1905, uma missão de capitalistas estadunidenses, que segundo Ruschel (1987, apud ELY, 2004, p.144), era Mr. W. T. Van Brunt, Mr. Schrred e Mr. Everit, além de uma missão política gaúcha vieram a Torres para sondar a possibilidade de reiniciar as obras do porto, iniciadas e interrompidas uma década atrás. Novamente o projeto não foi viabilizado, pois os investidores preferiram Santa Catarina por ter carvão abundante.
E a última esperança foi quando Getúlio Vargas assumiu o governo do Estado do Rio Grande do Sul. Em janeiro de 1928, Getúlio decidiu em sua visita a São Domingos das Torres, que deveria retomar a ideia do porto de Torres. Quase um ano depois, uma equipe técnica vem fazer novos levantamentos para tal possibilidade, mas por questões econômicas e políticas que pairavam contra o Estado, impossibilitou a retomada do porto. Quando Getúlio toma o poder federal, ascende nova esperança, mas novamente não foi possível fazer de Torres uma cidade portuária.
Sob as lentes de Torres – Jaime Batista